Capítulo 20
- Foi o melhor que consegui encontrar, Marcela, desculpe.
- É perfeito, Flávio! Só precisa de um pouco de carinho e atenção.
Marcela e Flávio se olhavam.
Pareciam não acreditar que finalmente eles estavam ali, frente a frente, sem Letícias, sem Sérgios, Paulas, Clementes, Lúcias...
Era o começo de uma nova vida.
Começaram a rir. Não conseguiam conter o riso.
Estavam felizes, leves.
Dora e Clara juntaram-se a eles e também começaram a rir.
Decidiram que juntos dariam um jeito na casa.
Flávio não tinha conseguido arrumar emprego ainda.
O dinheiro que ele tinha foi quase todo para comprar aquela casa.
O pouco que restou não duraria muito tempo.
Então, Dora sugeriu fazer bolos para vender, para ajudar na renda, mesmo que Flávio encontrasse um emprego.
Todos adoraram a ideia e fizeram vários planos: Marcela iria estudar arte, Clara terminaria os estudos, e se a venda dos bolos desse certo, por que não investir nisso, e montar uma doceria para Dora?
Começaram a pintar a casa, reformar alguns móveis, planejando como seria a vida deles dali para frente. Bateram na porta e Flávio foi atender.
- Deve ser o meu advogado trazendo os papéis do divórcio. Não vejo a hora de me livrar disso!
- Pois não?
- Senhor Flávio?
- Sim, senhor policial. No que eu posso ajudar?
- O senhor me acompanhe, por gentileza, até a delegacia de EgoVille.
- Como assim? Por que?
- Aquelas ali são Dora, Marcela e Clara?
- Flávio o que está acontecendo?
- Eu não sei, Marcela!
- As senhoras, por favor, me acompanhem também.
- O senhor pode nos explicar o que está acontecendo, senhor policial?
- Olha, senhor Flávio, se o senhor se recusar a vir comigo... Aliás, se qualquer um de vocês se recusarem a vir comigo, tenho ordens de leva-los presos. Ou vocês vêm espontaneamente, ou irão de forma coercitiva.
Flávio pediu que todos tivessem calma e que acompanhassem o policial.
- Tenho certeza que isso é um engano. Fiquem tranquilas, logo vamos esclarecer tudo isso.
Quando chegaram na delegacia em EgoVille, a imprensa estava toda aglomerada.
Mal era possível andar direito.
“O senhor sequestrou essa família?”; “vocês sofriam algum tipo de abuso?”; “como era na mina?”, “que tipo de doença as pessoas tinham?”; “o senhor Sérgio sabia disso tudo?” – gritavam os repórteres.
De dentro de sua cela, Flávio pedia informações o tempo todo, mas ninguém dizia nada.
Separado dele, presas em outro local, Marcela, Dora e Clara estavam desesperadas, sem saber o que fazer, pois nunca estiveram nessa situação.
A única certeza é que toda a verdade tinha vindo à tona.
Mas como? Quem? O que estava acontecendo?
- Irmão, o que você fez? – perguntou Padre Bosco ao delegado.
- Bosco, não tenho tempo para isso!
- Deixe-me falar com eles!
- Você não pode Bosco, sabe disso.
- Você é o delegado, mas também é meu irmão. Você pode fazer o que quiser. Por favor, deixe-me falar com eles. Eles não têm a menor ideia do que está acontecendo.
- Bosco, você sabe que o Sérgio está na minha cola.
- Irmão, chega de fazer vistas grossas! Pessoas morreram e esses inocentes não podem pagar pelos crimes de outras pessoas!
- Não sei se são inocentes. Por isso estou investigando.
- Ora, irmão... Você sabe muito bem quem são os verdadeiros culpados. Você se esqueceu que eu estava naquela mina há anos?
- Desculpe, Bosco, não posso fazer nada.
- Irmão, não me diga que você também...
- Bosco... Ou a gente entra no esquema, ou a gente morre!
- Me deixa falar com eles! – insistiu Padre Bosco veementemente.
- Padre, o que está acontecendo? – perguntou Flávio, extremamente aflito.
- Flávio... Escute, por favor fique calmo, filho. – tentou Padre Bosco confortá-lo.
- Onde está a Marcela? Ela está bem?
- Filho, por favor me escute... O Clemente e a Lúcia vieram para cá atrás da família. O Clemente estava muito doente e ele acabou morrendo. Quando os outros mineradores souberam disso, eles se rebelaram e vieram todos aqui para EgoVille, tirar satisfações com o Sérgio, em busca da verdade, pois eles acham que o Clemente foi assassinado. Eles chamaram a imprensa e tudo.
- MEU DEUS, ASSASSINADO!? A Marcela está sabendo sobre o pai?
- Ainda não... Mas irei agora falar com elas.
- Mas por que estamos presos?
- Quem você acha que o Sérgio, a Paula e a Letícia iriam culpar por tudo?
- MEU DEUS!!! Eles querem vingança!
- Vou arrumar um advogado pra você, filho. Você é um homem de bem. Tentou ajudar todas as pessoas de lá. Eles sabem disso e estão do seu lado. Não se preocupe, pois quando eles forem testemunhar, falarão a verdade sobre você!
- Obrigado, padre!
Antes de sair da delegacia, Padre Bosco conversou com Marcela e sua família.
Contou-lhes tudo o que havia acontecido e as suspeitas dos mineradores.
Dora ficou chocada! Quase desmaiou!
Marcela amparou a mãe, para que ela não caísse no chão.
Clara estava em choque. Não sabia entender seus sentimentos, se estava triste por ter perdido o pai, ou aliviada por ter a certeza de que nunca mais veria aquele carrasco novamente.
Marcela estava mais preocupada em consolar sua mãe e no que aconteceria com todos eles, do que em processar as informações que acabara de receber.
Padre Bosco correu o mais rápido que pode para encontrar um advogado para eles, pois sabia que logo seu irmão iria interroga-los, e encontrar um advogado que não fosse comprado pela família de Sérgio, seria muito difícil.
Flávio sugeriu que procurasse um outro ex-colega de faculdade dele, mas só em caso de extrema necessidade.
- Venha, rapaz, vamos conversar. – ordenou o delegado.
- Mas meu advogado ainda não chegou!
- Não interessa, vem aqui, tô mandando. – insistiu.
- Eu sei dos meus direitos!
- Escuta aqui, cara, você virá por bem ou por mal? – disse o delegado em tom ameaçador.
Flávio achou melhor não retrucar e acabar de vez com aquilo, afinal ele não havia feito nada de errado.
“Quem não deve, não teme”, falou para si mesmo, antes de seguir o delegado.
Não perca o próximo capítulo de Amor Além dos Sonhos!
