Capítulo 21

- O que você fazia na empresa do senhor Sérgio? – interrogou o delegado.
- Eu era assistente administrativo.
- Não perguntei seu cargo, meu jovem... Perguntei o que você fazia naquela empresa. – indagou grosseiramente o delegado.
- Bom... Eu recebia as faturas das compras da matéria prima, organizava tudo, conferia se o que era pedido era realmente entregue, organizava a papelada e arquivava tudo isso. Também verificava, organizava e arquivava todas as documentações da empresa.
- Que tipo de documentos?
- Contas, boletos, holerites, cartões de ponto... Eu supervisionava todos os setores da empresa e me certificava que todas as papeladas deles estavam sendo conferidas, organizadas e arquivadas.
- Alguma vez você viu a mercadoria que era comprada para ser usada de matéria prima?
- Não, senhor. Eu apenas conferia se o setor de compras havia emitido os pedidos, se o setor financeiro havia realizado os pagamentos e depois se as faturas haviam sido assinadas na entrega, na conferência dos produtos. Eu nunca estive no chão de fábrica. Eu só lidava com os documentos. Apenas isso. Minha função era supervisionar se os setores estavam trabalhando corretamente, organizar e arquivar a papelada deles.
- E o produto final, alguma vez você viu?

- Tirando alguns que ficavam expostos na sala do senhor Sérgio, não, nunca vi. Eu não tinha contato com as joalherias para quem eles vendem as joias. Mas também era responsável  pela papelada do setor de vendas.
- Alguma vez você falou com algum fornecedor?
- Negativo. Eu não tinha acesso aos contatos, com quem os representantes da empresa falavam.
- E com as joalherias? Alguma vez você tratou com elas?
- Também não.
- Você não fazia vendas?
- Não, nunca fiz.
- Você sabia da existência da mina clandestina?
- Soube há pouco tempo, quando o senhor Sérgio me mandou ir lá, levar alguns remédios e conversar com os mineradores. Mas até então, eu desconhecia totalmente.
- Verdade?
- Sim, verdade. Não tenho porque mentir.

- Rapaz, você quer me convencer que, sendo casado com a filha do dono da empresa, braço direito do chefão, nunca, mas nunca nesses anos todos de convivência direta com essa família, sequer ouviu falar, dessa mina? Mas nem sequer suspeitava que ela existisse? Nunca flagrou nenhuma conversa suspeita, uma ligação em horário impróprio, um nervosismo anormal?
- Nunca! Eu juro pro senhor! Eu não sei há quanto tempo aquela mina existe, mas eles nunca transpareceram nada! Eu não sei nem se a Letícia sabia disso tudo!
- Tá bom... Vou fingir que acredito... Qual o seu nível de conhecimento de física e química?
- Ué... Por que essa pergunta?
- Apenas responda, rapaz!
- Nível escolar.
- Ah, é mesmo? Nível escolar? – debochou o delegado.
- Sim, isso mesmo.
- Então, meu jovem, como o senhor explica o teste que fez para o Sérgio, dizendo que havia algum tipo de contaminação no solo da mina?

“MEU DEUS, O TESTE DO SOLO DA MINA! Havia me esquecido totalmente disso...”, pensou Flávio. “Ai, meu Deus, o que eu faço? Não posso entregar meu amigo... Mas se eu mentir, pode ser pior!”.

- Eu procurei na internet como fazer. É incrível o que se pode encontrar na rede. Fiz tudo sozinho.
- Sozinho? Sei... Sei... Então, não é possível que você tenha infectado essa amostra de propósito, para prejudicar o senhor Sérgio? – enfatizou o delegado.
- Imagine! Por que eu faria isso? – respondeu Flávio indignado.
- Eu não sei! Me diga você! – desafiou o delegado.
- Eu não tenho motivos para prejudicar o senhor Sérgio. Ele sempre foi muito bom para mim. Custeou meus estudos, me deu oportunidade de emprego...
- Mas o seu casamento com a filha dele não andava bem...
- Nós tivemos nossos problemas, mas já havíamos resolvido todos quando ele me mandou para a mina.
- Sim. Por isso você arrumou uma amante?
- A Marcela não é minha amante! Nunca foi! Ela era espancada pelo pai!
- E como você sabe disso?

“Se eu contasse, você não acreditaria. Aliás, acho que ninguém acreditaria em mim...”, pensou Flávio.

- Porque eu presenciei um dos ataques. Pergunte para o seu irmão, o Padre Bosco. Ele está lá há mais tempo, conhece os mineradores melhor do que eu! Mas, se o senhor duvida, pergunte para a Marcela, sua mãe e sua irmã. Mande fazer outro teste do solo da mina e verá que não estou mentindo!
- Não me diga como fazer o meu trabalho! Conheço muitos malandros espertalhões como você! Sei muito bem como lidar com gente assim! Se você estiver armando para a família do senhor Sérgio, eu irei descobrir! Guarda, leve este vagabundo de volta para a cela!

O delegado sabia que não tinha provas contra Flávio.
Também sabia do que a família de Sérgio era capaz de fazer.
Tantas vezes ele já tinha feito vistas grossas sobre as mortes misteriosas dos mineradores e de outras pessoas que ousaram atrapalhar os planos dos poderosos da cidade.
Mas desta vez era diferente: a imprensa ficou sabendo de tudo.
A mídia, o povo da cidade, e até mesmo autoridades superiores voltaram seus olhos para EgoVille.
Não havia mais como deixar os problemas escondidos apenas entre aquelas paredes. Ele temia por sua vida, pois sabia que não havia muita coisa que ele pudesse fazer para proteger Sérgio e a família dele.
A essas alturas, a polícia já estava fazendo buscas nas propriedades de todos, nas empresas, apreendendo tudo o que viam pela frente.
Era uma questão de tempo até todos os podres virem à tona.
E, se Sérgio e os irmãos não tivessem sido espertos o suficiente, a descoberta da mina era apenas a ponta do iceberg.
A verdade é que nem o delegado sabia a quantidade de crimes que aquele grupo havia praticado: lavagem de dinheiro, chantagem, extorsão, crimes ambientais, trabalhistas, homicídios, sonegação fiscal, e sabe-se lá Deus mais o que as buscas policiais e as perícias conseguiriam descobrir.
Não tinha como colocar toda a culpa em Flávio.
Era praticamente impossível implantar provas e coagir testemunhas para incriminá-lo naquela altura do campeonato.
Ele estava de mãos atadas.
Estava sendo ameaçado por Sérgio e seus irmãos.
Sabia que as coisas não acabariam bem para ele.

Tomou o depoimento de Marcela e sua família.
Sensibilizou-se com elas.
Percebeu que não poderia mais ter nas mãos o sangue de tantas pessoas, mesmo que no final o dele fosse derramado.
Decidiu liberá-las. Mas manteve Flávio preso.

- Que absurdo! – indignou-se Marcela.
- Calma, ele deve ter os seus motivos. Logo o advogado que eu chamei vai chegar, e tenho certeza que meu irmão fará o que é certo. Conversei muito com ele sobre isso. – Padre Bosco tentou acalmá-la.
- Obrigada, padre Bosco. Não sabemos para onde ir. Não temos como voltar para SaintValley.
- Podem ficar na casa da minha mãe até o Flávio ser solto.

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