Capítulo 23

Estava uma loucura do lado de fora da delegacia.
Uma multidão se aglomerava para ver os mais ricos e poderosos de EgoVille sendo presos.
Cidadãos gritavam, xingavam cada um que passava por um estreito corredor humano que os policiais conseguiram fazer com muito custo, pois estava difícil conter a população revoltada com tantas mentiras, crimes e manipulações.
Descer do carro e entrar na delegacia parecia ser quase impossível.
A imprensa não perdoava, e incitavam ainda mais os cidadãos.
Queriam a todo custo arrancar qualquer palavra daquelas pessoas, que até bem pouco tempo atrás achavam que nada poderia lhes atingir.
Eles se restringiam a esconder os rostos, como se ninguém já não os conhecessem e soubessem muito bem como são suas feições.
Foi Paula que decidiu quebrar o silêncio, quando uma repórter conseguiu colocar o microfone em seu rosto, chegando a batê-lo em sua têmpora, perguntando o que ela achava daquilo tudo.

- Eu acho é que vocês são uns mortos de fome ingratos! Depois de tudo que fizemos por vocês, por esta cidade! Nós a criamos, nós somos seus donos SIM!

E uma chuva de vaias e protestos tomaram conta da multidão, enquanto flashes cegavam Paula, que devolveu a provocação com gestos obscenos.

Marcela, Dora e Clara estavam do outro lado da rua, assistindo a tudo.
Não escondiam uma certa satisfação, mas estavam preocupadas com o que aconteceria a partir dali.
Ao mesmo tempo que queriam justiça, tinham receio que pelo fato de serem pessoas tão influentes, talvez a lei fosse diferente para eles, e a punição – se ela realmente acontecesse, não seria condizente com os crimes que cometeram.

Os pensamentos foram interrompidos pela chegada de Lúcia.
Mal a reconheceram toda maquiada, cabelo e unhas feitas, bem vestida: tudo com o que ela sempre sonhou.
Agarrada com o seu “noivo”, ela chegou esnobando a família:

- Podem ir tirando o cavalinho de vocês da chuva, pois de mim vocês não terão um tostão! Ninguém mandou vocês me abandonarem naquele lugar imundo! Viraram as costas pra mim, agora vou virar pra vocês também!

Marcela ia colocar a irmã no seu devido lugar, mas Dora sentiu que aquele era o seu momento de desabafar todos os anos de abusos do marido e ingratidão da filha:

- Nós não precisamos de nenhum tostão seu, minha filha. Viveremos muito bem com a indenização que a família do seu noivo drogado irá pagar para nós por tudo o que fizeram. E, até onde eu saiba, está tudo bloqueado pela justiça. Eles não têm mais nenhum centavo!

Lúcia ficou branca!
Não estava acreditando no que acabara de ouvir.
Achou que a mãe estivesse mentindo por despeito.

- É verdade isso, amor? – perguntou com a voz trêmula, torcendo para ouvir que estava tudo bem, que eles continuavam ricos e ela poderia ter o casamento dos sonhos, e viver com tudo do bom e do melhor, como sempre desejou.
- Ai, que amor o quê? Sai pra lá, sua baranga! Some da minha vida! Não preciso mais fingir que te aturo! Fui obrigado a ficar com você, mas agora eu tô é livre, isso sim! E me dá aqui esse anel, que eu vou vender pra comprar fumo pra mim.

Lúcia tentou evitar, gritando “não, por favor, não!”, mas não teve jeito: o rapaz arrancou o anel do seu dedo, virou as costas e foi embora.
Ela sentou na sarjeta e começou a chorar compulsivamente.
Dora se aproximou, agachou-se para ficar com os olhos no mesmo nível dos da filha, e disse:

- Estamos precisando de uma faxineira na doceria. O emprego é seu, se você quiser. Mas terá que pagar por sua comida e sua moradia. Ah, outra coisa: encontraram o corpo do seu pai, se é que você se importa. Não sei se te interessa saber, mas vamos conseguir dar um enterro descente para ele, assim que for liberado.

Flávio estava impaciente.
Tomás estava demorando muito.
Não tinha notícias há um certo tempo.
Temeu que os planos do delegado não tivessem dado certo.
Quando ouviu a porta do corredor destravar, tinha certeza que o pesadelo havia chegado ao fim.

- E aí, Tomás? Pelo amor de Deus, me traga boas notícias! – suplicava Flávio.
- Meu amigo Flávio, você é um homem livre! Livre da Letícia, livre do seu sogro, livre de tudo, tudo, tudo.

Flávio quase desmaiou! Não estava acreditando que finalmente este dia havia chegado.
Assim que a cela foi aberta, ele correu para fora da delegacia.
Foi cercado pelos jornalistas e pela multidão, que ainda clamava por justiça.
Foi ovacionado. Todos aplaudiam aquele corajoso rapaz que libertou a todos.
Se ele não tivesse resgatado Marcela, Dora e Clara, nada daquilo teria acontecido, e todos naquela cidade continuariam vivendo uma grande mentira, sustentado egos inflados e criminosos sem escrúpulos.

Já estava quase amanhecendo quando saiu da delegacia.
Fechou os olhos, levantou o rosto para cima.
Respirou fundo, sentiu o cheiro da liberdade, da verdade, da justiça.
Saboreou por alguns segundos sua vitória.
Sentiu o peso do mundo sair de suas costas.
Mas os gritos da multidão e os flashes da imprensa batendo em seu rosto o trouxeram de volta.

Ele agradeceu o carinho das pessoas.
Sorria para todos.
Olhava para cada um ali presente, mas não conseguia ver o rosto de ninguém, pois havia um em específico que ele estava procurando.

Foi então que do outro lado da rua ele pôde ver Marcela parada, com os olhos cheios de lágrima, saboreando junto com ele aquele momento.
Desvencilhou-se dos repórteres e correu ao seu encontro.

Se abraçaram e ficaram chorando por um tempo, sem falar nada.
Eles sabiam que havia chegado a hora.
Olharam-se sem pressa, com ternura. Com alívio. Com paixão.

Era a primeira vez que se beijavam de verdade.
Aquele beijo significava tudo para ambos.
Por alguns segundos o mundo parecia ter parado.
Não havia mais nada nem ninguém ali, apenas os dois se beijando.

Flávio pôde sentir pela primeira vez o gosto de Marcela.
Que gostoso era! Lembrava campo, flores e inocência.
Passou a mão em seu cabelo macio, sua pele delicada, embora um pouco judiada do sol.

Marcela sentiu o calor do corpo de Flávio.
Sentiu-se segura, livre e amada em seus braços fortes e ao mesmo tempo carinhosos.

Aquilo era muito, muito melhor do que ambos um dia haviam sonhado.
Era verdadeiramente um amor além dos sonhos.

Este foi o último capítulo de Amor Além dos Sonhos!
Espero que você tenha gostado! ;)
Ass: Fazinha

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