Entre Amigas

Capítulo 10

Nas últimas semanas não se fala em outra coisa na escola a não ser sobre a Formatura. Qual roupa usar, quem iria acompanhar quem, qual DJ tocaria na festa... Eu não agüentava mais ouvir isso! Estava mais preocupada com as provas de recuperação, pois eu não queria bombar a 8ª, justo agora que já estava com um pezinho no Colegial.

Estava em casa estudando feito louca, quando o telefone tocou.
Marcelo: Hey, esqueceu de mim, é?
Débora: Claro que não! É que eu tenho prova de recuperação na semana que vem, preciso estudar muito pra não bombar.
Marcelo: Hum, entendi. Você precisa de alguma ajuda?
Débora: Brigadinha! Se precisar de alguma coisa, te chamo. Nem que seja para dar uns beijinhos...

Foi boa aquela pausa de 5 minutos. Era o fôlego que eu precisava para voltar a estudar. O Marcelo foi bem compreensivo nos dias em que precisei me ausentar, por causa das provas. Mas eu estava com muitas saudades dele, e assim que as provas acabaram – e eu fui super bem, tenho certeza que passei! – eu não pensava em outra coisa, a não ser ficar com ele. Será que estou apaixonada?

Marcelo: Faz tempo que queria te perguntar uma coisa.

Ai, meu Deus, será que ele vai me pedir em namoro? Minha mão começou a suar, meu coração disparou, pensei que fosse ter um treco!

Débora: O que, Ma?
Marcelo: O que é isso que a gente ta tendo, exatamente?
Débora: Tipo, se a gente ta namorando?
Marcelo: É... O que você pensa sobre isso?
Débora: Ah, não sei, eu nunca namorei!
Marcelo (rindo): Eu sei... Mas olha só: você nem contou pra ninguém sobre nós. O que exatamente você quer da nossa relação? Porque já faz um tempo que a gente ta ficando...
Débora: Ah, eu contei pra Nessa. E só. Não falo mais com a Dri, e tenho muito medo da reação da sua irmã.
Marcelo: Bom, eu poderia falar com ela.
Débora: Tá, mas falar o quê?
Marcelo: Então, é exatamente isso que eu quero saber de você. O que eu devo falar?
Débora: Ué... Fala o que você quiser...
Marcelo: Mas, o que você quer?
Débora: Eu quero o que você quer...
Marcelo (rindo): Ai, ai, garota complicada e medrosa!
Débora: Não sou medrosa!
Marcelo: Claro que é! Nem contou pra ninguém sobre a gente... Só fica comigo escondido...
Débora. Não sou medrosa...
Marcelo: Então tá. Você vai me assumir, então?
Débora: Assumir? Como assim?
Marcelo: Como seu namorado, ué.
Débora: Assumo.
Marcelo: DUVIDO!
Débora: Assumo sim!
Marcelo: Então eu quero ver você ter coragem de ir comigo na formatura.

Aí um novo conflito começou dentro de mim. Eu gosto dele, gosto de ficar com ele, mas porque eu tinha tanto medo de que todos soubessem disso? Talvez porque eu não confio nas minhas amigas, e elas poderiam estragar um momento tão grande de felicidade, que eu nunca pensei que um dia sentiria. Ou será que eu gosto porque é escondido? Qual seria a reação dos meus pais? E a Rê? Será que a Dri tentaria roubar o Marcelo de mim? Pior: será que ela conseguiria? Eram muitas dúvidas e eu estava MORRENDO de medo, mas também tinha muito medo de perder o Marcelo.

Então o primeiro passo foi contar para os meus pais. Sinceramente? Achei que a reação seria pior. Pensei que levaria uma baita bronca, que ficaria de castigo para o resto da minha vida, mas ao invés disso tive que ouvir a mais constrangedora conversa sobre sexo, camisinha, gravidez na adolescência, AIDS, e por aí a fora.

Débora: Mas mãe, eu não quero transar, eu quero namorar!
Luíza: Mas filha, chega um momento em que os hormônios ficam doidos, e você está namorando um rapaz um pouquinho mais velho, e...
Débora: Ai, tá bom, mãe! Já entendi. Pode deixar que eu escutei tudo o que você falou, já sei sobre os prós, os contras e tudo mais.
Luíza: Que bom, minha filha. Saiba que você pode conversar comigo o que quiser, sempre que quiser. Não fique com dúvidas, mas principalmente não se sinta obrigada a fazer nada.
Débora: Tá, tá, já entendi!

Corri pro meu quarto querendo sumir no meio das almofadas! Mas logo me animei novamente, porque Nessa e eu combinamos de ir ao Shopping, comprar nossos vestidos pra formatura. Quando voltamos para casa, arrisquei perguntar pra ela...

Débora: Nessa, você e o Doug já... Já... Ah, você sabe, né?
Vanessa: Sei não. Do que você está falando?
Débora: Afe! Ta bom, vai na lata: você e o Doug já transaram?
Vanessa: NÃO, CLARO QUE NÃO!
Débora: Credo, calma, não ta mais aqui quem falou!
Vanessa: Isso é pecado, sabia?
Débora: Er... Tá. Mas, tipo, nunca sentiu vontade?
Vanessa: Ah, senti, né? Olha, não conta pra minha mãe, mas uma vez até rolou uma mãozinha boba...
Débora (rindo): Mãozinha boba, é? Sei...
Vanessa: Mas sei lá. Eu acho que a gente ainda não ta pronto pra isso, sabe? O Doug é muito imaturo, e eu tenho muito medo.
Débora: Medo de não ser bom?
Vanessa: Ah, medo de doer, de ir pro inferno...
Débora (rindo): Ai, ai, cada uma, viu.
Vanessa: E você e o Marcelo, já transaram?
Débora: Não, né? Pra falar a verdade eu nem penso nisso ainda, mas fico preocupada porque o Marcelo é mais velho, com certeza ele já transou, e deve esperar que isso aconteça no nosso namoro, né?
Vanessa: Com certeza! E aí, o que você vai fazer?
Débora: Ah, sei lá. Eu tenho alguns medos também.
Vanessa: De engravidar?
Débora: Não, porque eu jamais transaria sem camisinha. Mas tipo, e se o namoro mudar? E se ele nunca mais falar comigo, e ainda por cima espalhar pro colégio todo?
Vanessa: É verdade, é um risco.
Débora: Mas também não dá pra ficar com medo de tudo, né? A minha mãe falou que eu não devo me sentir pressionada a fazer nada, que quando for a hora certa, eu vou saber, mas eu tenho que ter certeza que é isso mesmo que eu quero, porque depois não tem volta.
Vanessa: Puxa, é complicado isso, né?
Débora: É! Fico confusa, sabe? Uma hora eu fico muito curiosa de saber como que é na hora H, outras vezes eu torço para que demore muito a chegar, porque não sei se vou conseguir decidir naquele momento se é mesmo o certo a fazer.

Era muita coisa pra se pensar ao mesmo tempo. O baile de formatura estava chegando e em pouco tempo todos saberiam sobre eu e o Marcelo. Fora isso ainda havia a pressão do namoro se tornar sério e eu ter que tomar decisões que afetariam o resto da minha vida. Pelo menos as férias estavam chegando e essa fase do namoro se passaria longe da escola – menos olhares secantes, menos julgamentos e fuxicos. No meio disso tudo achei o vestido perfeito! Agora só faltava encarar de frente esse meu maior medo.

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