
Era
mais um dia calmo e tranqüilo na aldeia Guinurá. Kariska acordou cedo,
como toda manhã, viu o sol nascer e logo foi tratar da plantação,
afinal sua família dependia dela para se alimentar.
Tukã também levantou cedo e foi pescar. Logo os turistas chegariam
ao cais, e iriam deixar rios de dinheiro em busca dos famosos peixes
da região. E só ele sabia como pescar os melhores da espécie.
Chegou à margem do rio, fez uma prece à Kixó, deus protetor dos pescadores.
Pediu que a pesca daquele dia fosse farta. O deus atendeu seu pedido
e o presenteou com belos exemplares, que deixaram todos boquiabertos.

No
caminho de volta para casa, observou Kariska fazendo a colheita. Ficou
ali parado, escondido atrás de uma árvore, observando seus movimentos.
Olhou seu corpo, seus braços delicados, as linhas suaves a graciosas
do seu rosto, o jeito leve e charmoso que seu cabelo caía sobre os
ombros. Percebeu que não havia ninguém por perto. Correu ao encontro
dela e a surpreendeu com um beijo apaixonado.

-
Tukã! O que faz aqui?
- Voltei mais cedo hoje. Kixó foi generoso e em poucos minutos já
havia conseguido o que levaria horas para pescar. - Tenho muito orgulho
de você, Tukã. Mesmo nos momentos mais difíceis não perde sua fé.
- Minha bela Kariska! Seus olhos são a minha alegria e te ver sorrindo
todo dia me faz feliz. Minha fé apenas me mostra o caminho. Ah, se
pudesse tê-la como minha esposa!
- Tukã, você sabe que sou muito nova para casar...

-
Sim, minha bela, eu sei... Mas também sei que aquele vagamundo do
Iraiã anda te abordando...
- Calma, Tukã... Você sabe que é você que eu amo e jamais o trocaria
por Iraiã.
- Ele é traiçoeiro, Kariska. Vive falando de ir embora daqui. Está
dando as costas para nós, que somos como ele. Iraiã acha que é lá
do outro lado que está a felicidade. Mas está cego pela ambição. Aquele
povo não gosta de nós. Eles prometem coisas para Iraiã e ele acredita.
Acha que um dia será como eles. Mas não existe lugar para pessoas
como nós no mundo deles.
- Tukã, nós já falamos sobre isso. Não agüento mais esse assunto!
Nós não vamos conseguir convencer Iraiã disso. Ele precisa aprender
sozinho...

-
Mas, Kariska, você não entende! Iraiã é como se fosse meu irmão! Hoje
nem o conheço mais...
- Você precisa ser mais flexível, Tukã. Chega de brigas, ele não vai
ceder. Não há mais nada que a gente possa fazer.
- Não vou desistir, Kariska! Tenho minha fé e ela não vai me abandonar
neste momento! Ao contrário de você, que já está pensando como eles.
Não vou me espantar se um dia você for embora daqui junto com Iraiã.
Aliás, acho até que é por causa disso que você não quer se casar comigo!
Esse negócio de idade é desculpa... A sua irmã é mais nova que você
e já se casou...
- Chega, Tukã! Já disse que não quero mais falar sobre isso. Você
está bravo com Iraiã e desconta em mim! Não misture os assuntos, pois
nosso amor não tem nada a ver com os homens da cidade grande, nem
com o casamento da minha irmã. Eu sou eu e ela é ela!

Kariska
foi embora chorando.
Ficou o resto do dia evitando Tukã.
No dia seguinte decidiu não fazer a colheita, mesmo porque já estava
com um bom estoque em casa e não queria encontrar Tukã no caminho.
Iraiã pulou pela janela do seu quarto.

-
Já te pedi para não fazer isso, Iraiã.
- Ninguém me viu, Kariska. Estou com tantas saudades! Ficou doido
de ciúmes quando te vejo com Tukã.
- Não seja bobo. Sabe que amo Tukã. Você precisa me esquecer, Iraiã.
A aldeia está repleta de mulheres bonitas. Tukã não gosta de nossa
proximidade. E você é muito insistente. Não quero cometer nenhum deslise.
- Por isso mesmo estou aqui, Kariska. Vim saber minha resposta.
- Ainda não a tenho. Não tive tempo de pensar direito.

-
Ah, Kariska, pelo amor de Kixó! Já te dei tempo suficiente para pensar.
Esta é a sua última chance. Eu vou embora hoje à meia noite. Se quiser
vir comigo, me encontre no rio. Se não, esta é a última vez que nos
vemos! - Não faça assim, Iraiã! Não é fácil largar minha família...
- Sua família ou o Tukã?
- Tudo, Iraiã, tudo! Ele foi meu primeiro namorado...
- Pensei que fosse de mim que você gostasse...
- Isso não é justo!
- Então, qual é a dúvida? Qual o problema em largar essa vidinha medíocre
e ser alguém de verdade?
- Olha só como você está falando Iraiã! Foi aqui que você nasceu!
Foi aqui que você aprendeu a andar, pescar e lutar! Sua família vive
aqui! Nós nos conhecemos aqui!

-
É por isso que quero que você venha comigo. Desculpe, Kariska, mas
eu não pertenço a este lugar. Nós não pertencemos a este lugar! Você
não conhece nada além do rio. Não sabe a vida maravilhosa que existe
na cidade...
- Sabe, Iraiã, às vezes acho que é você que não dá valor ao que tem.
E muitas vezes só percebemos isso quando perdemos o que mais amamos.
Não quero cometer este erro.
- E não vai! Se não der certo, se você não gostar, pode voltar depois.
Não vai ser fácil, eu sei. Mas não quero perder esta oportunidade!
- E a vergonha, Iraiã? Sair de nariz empinado, contra tudo e todos
e depois voltar de mãos abanando?
- Kariska, vergonha é ter medo do desconhecido. Vergonha é desistir
sem tentar. Vergonha é se recusar a progredir.

Virou
as costas e saiu pela janela. As palavras de Iraiã calaram Kariska.
Ela ficou a tarde toda pensando. Decidiu ir até a nascente do rio.
Toda vez que precisava pensar sobre algo, ia até a nascente. Fazia
uma prece para Kixó, que apesar de ser o deus dos pescadores, também
era o guardião da sua aldeia. Precisava que a sua fé estivesse mais
forte do que nunca, pois as dúvidas eram muitas e uma decisão errada
poderia arruinar sua vida. Ela estava lutando entre o amor de dois
homens. Entre a mesmice, porém segura, e um futuro diferente, mas
com riscos. Ela sabia que se tudo desse errado não poderia voltar.
Sabia que seus pais não a aceitariam de volta. Sabia que Tukã jamais
perdoaria sua traição. Mas também sabia que Iraiã estava certo, que
jamais deveríamos desistir sem tentar. E se aquele fosse um sinal
de que uma grande mudança estaria para acontecer? Nem todas as mudanças
são para pior. Será que valeria a pena?

Iraiã
chegou à beira do rio dez para meia noite.
Primeiro olhou as árvores.
Depois olhou para o rio.
Lembrou de quando ele e Tukã aprenderam a pescar. Tukã sempre foi
melhor do que ele. Era mais forte, mais ágil, mais "da terra". Iraiã
nunca se interessou por isso. Ficava olhando o céu e pensando como
ele seria se visto de outro ângulo; se a mesma estrela teria aquele
brilho se observada de outro ponto da Terra.

Pensou
em desistir se Kariska não aparecesse. Ela seria o único elo entre
o seu passado e um futuro cheio de novidades e esperanças que o aguardava.
Ao contrário do que todos achavam, ele não tinha vergonha de ser o
que era. Só não queria ser assim para sempre. Já era meia noite. Ela
não estava lá. "É, ela não vem" - pensou. "Mas não a culpo por isso.
Não é fácil mesmo. Nem eu imaginei que seria tão difícil sair daqui".
Lembrou das inúmeras vezes em que ele, Kariska e Tukã brincaram de
esconde-esconde por lá.

Localizou
a árvore em que Tukã escreveu que amava Kariska. Ele tinha apenas
10 anos quando fez isso. Mas já sabia que a amaria para sempre.
Naquela época Iraiã também a amava, mas em segredo. Não foi fácil
se decidir entre o amor e a amizade. Não havia jeito. Eles sempre
foram um triângulo e só na adolescência começaram a perceber isso.
Deu uma última olhada. Decidiu seguir. Foi subindo em direção à cidade.

-
Iraiã, espere! -
Kariska, você veio! Mas, apenas para se despedir ou você vem comigo?
- Eu vou, Iraiã. Com você ao meu lado, não terei medo.
- Isso, Kariska. Um apoiará o outro... E Tukã? Ele sabe? - Deixei
um bilhete para os meus pais e para ele também. Espero que eles entendam
e possam me perdoar...
- Não há nada que o tempo não cure, Kariska. Você vai ver...

Seguiram
juntos até a cidade.

Tukã
ficou arrasado ao ler o bilhete de Kariska.
Apesar de toda a dor que estava sentindo, tinha esperança de que um
dia ela voltaria.
Toda manhã, antes de pescar, fazia as mesmas orações a Kixó. Só que
agora também pedia que, estivesse onde ela estivesse, que Kixó a protegesse.
Que protegesse também a sua família.
Às vezes pedia que ela voltasse e, que quando isso acontecesse, que
ele fosse capaz de perdoa-la, pois ainda a amava demais.

Dois
anos se passaram.
Certo dia, Tukã foi abordado por um rapaz, enquanto vendia a pesca
do dia, no cais.
O rapaz lhe entregou uma carta.
Nela estava escrito:
"Tukã,
Espero que o tempo tenha curado as feridas que lhe causei.
Rezo toda noite por você. Apesar de estar na cidade, não deixei de
ter fé em Kixó. É para ele que volto minhas preces e é inspirada em
sua fé nele que elevo meus pensamentos também. Não me arrependo de
ter vindo para cá.
A vida daqui é completamente diferente. Acho que ninguém de Guinurá
conseguiria entender.
Iraiã estava certo. E, apesar de criticá-lo na época, acabei tendo
que me redimir às minhas próprias palavras: "A gente só dá valor a
algo quando a gente perde ele", me entende, Tukã? Por mais que esteja
feliz aqui, estou incompleta sem você, Tukã...
Precisei te perder para perceber que era com você que queria estar.
Apesar de ter vindo para cá com Iraiã, jamais ficamos juntos, pois
meu coração jamais aceitaria outro, que não fosse você.
Não pretendo voltar, Tukã. Também seria injusto te pedir para vir
para cá, pois conheço sua opinião e a respeito. Queria, apenas, que
você soubesse como me sinto e que fosse capaz de me perdoar.
Com amor, da sempre sua, Kariska"

Os
olhos de Tukã se encheram de lágrimas, mas não deixou que ninguém
percebesse que ele estava chorando. Voltou para Guinurá.
Subiu até a nascente e ficou sentado, relendo várias vezes a carta
de Kariska.
Sabia que deveria tomar uma importante decisão: fazer de conta que
jamais havia recebido tal carta e ficar para sempre com o coração
partido, ou jogar tudo para o alto e ir atrás de Kariska.
O
que Tukã decidiu? Você saberá no próximo episódio...
Bastidores

Os
SIMS se divertiram muito gravando "Guinurá".
Na cidade cenográfica foram construídas 3 casas: 2 apenas
para gravação, na aldeia, e outra para abrigar o pessoal
durante as filmagens.
Bernardo Soloçucci, que interpretou Iraiã, e Marcos
Viçoso, que interpretou Tukã, ficaram muito amigos e
passavam horas e horas relaxando no spa do estudio.

A
criançada também não deixou por menos.
Ou estavam comendo, ou estavam brincando.
Mesmo assim, não deixaram de estudar.
Iam à escola todos os dias, para a produção não
ter problema com o serviço social.

O
entrosamento era total.
Bernardo Soloçucci sempre dava umas dicas para a criançada.
Constantemente encontrava-se Bernardo fazendo as refeições
com Dudu Pobre, que interpretou Iraiãzinho.
Duas gerações unidas pela arte.
Prá falar a verdade era pela fome mesmo...

Depois
de um dia exaustivo de trabalho, os atores se amontoavam no alojamento
para a devida recarga das baterias.
Não foi fácil para as meninas Sara Muqueca, que interpretou
Kariska, e Milena Samambaia, que fez Kariskazinha, aguentar a poluição
produzida pelos rapazes.
"Estava mais para lixo tóxico!", contou Sara à
nossa redação.

Mas
o clima era de total descontração!
Aqui vemos parte do elenco enchendo o bucho, hora preferida do dia,
e outra parte estudando o script.
Aliás, os atores já estão com o script da sequência
de "Guinurá".
Ainda sem título, especula-se que haverá um encontro
romântico entre Kariska e Tukã.
Vamos aguardar!!!