Inferno no Colégio Interno
Capítulo 1
Por Meh Sz


Antes de eu começar a contar minha história, preciso que vocês conheçam e compreendam as doutrinas do colégio interno Florença.
Florença é um colégio grande e bem sucedido, administrado por uma família nobre. Famílias tradicionais confiam seus filhos ao colégio para garantir-lhes uma boa educação. O colégio também abriga órfãos, que podem ser adotados no período que ficam lá. Aliás, esta é a única forma de sair da escola.
Depois que entra, a pessoa só vê o mundo afora novamente após terminar os estudos e ficar maior de idade. Aparentemente, o ensino e a alimentação são de qualidade, a escola fornece conforto e os alunos são disciplinados.
Mas lá dentro é um inferno.


E só quem passou vários anos da sua vida lá dentro pode afirmar e garantir isso. Como eu. Eu posso.
Meu pai morreu antes mesmo da minha mãe saber que estava grávida. Quando eu estava com doze anos ela foi embora. Eu preferi não julgá-la. Abandonar-me e simplesmente sumir foi o melhor que ela poderia fazer. Pensando bem, eu realmente já não aguentava mesmo seus delírios, sua angústia constante e perturbadora, que cresceu sem limites depois que minha avó (pelo menos eu achava que ela era minha avó), senhora Josefa, faleceu.
O que não imaginava é que eu fosse sentir saudade.


Eu nunca havia dado conta do quanto dependia do seu sorriso, das suas mãos afagando meus cabelos. Eu já não tinha forças para sorrir, para ver o que há de belo num pôr-do-sol. Havia prometido a mim mesma que nunca mais me apegaria a ninguém, que não confiaria em nenhum ser, que não me entregaria a nenhum sentimento de dependência, compaixão, amizade.
Eu era observadora, inteligente o bastante para sempre tirar a nota mais alta na escola, severa o suficiente para ninguém ousar provocar-me. E usava isso a meu favor.
Eu também havia aprendido a ser fria. Nenhuma pessoa conseguia arrancar um sorriso irradiante de mim, nenhuma pessoa revertia o meu olhar tristonho. Isso até dar uma chance para o amor.


Eu morava numa mansão, herdada da minha avó. E, tornando-me órfã, só pude pegar meus bens depois que fiquei maior de idade. Durante esse tempo, me enviaram para um dos melhores colégios internos do país. Parte do meu dinheiro estava sendo gasto ali, acredito.
A escola era toda cinzenta, sem cor, sem vida. Na entrada, uma mulher horrenda pegou todas as minhas coisas, e me entregou o que seria dali em diante os meus pertences. A única coisa que ela permitiu que eu ficasse – por um tempo limitado – fora um urso de pelúcia, que eu nem fazia tanta questão. O que eu queria mesmo era o caderno de poesias da minha mãe.
Essa mulher se chamava Cátia, e ela era a inspetora do colégio, aquelas pessoas que andam circulando e colocando os alunos na linha. Ela deixou bem claro todas as regras e castigos.


O colégio era enorme. Tomava conta de um quarteirão inteiro, que ficava afastado da cidade. Não tínhamos permissão para passar dos limites do colégio, por isso não havia excursões. Todos, alunos ou não, deviam andar uniformizados. Era proibido namorar, brigar, faltar às aulas e entrar no setor administrativo sem autorização. Havia horário para tudo, e deviam ser seguidos à risca. Mesmo ficando maior de idade, se eu não concluísse os estudos não podia sair dali. As provas eram avaliadas de zero a dez, e a nota mínima para passar para a próxima série era sete. Para utilizar qualquer parte do colégio que não fosse o dormitório e o banheiro, era preciso estar com uma autorização.
Quem descumprisse quaisquer regras, independente do motivo, ficava trancafiado na torre do castigo pelo tempo determinado pelo diretor.


Eu nunca gostei de regras e padrões. E adaptar-me àquela rotina não seria nada fácil. Mas, pelo menos, lá era um local ótimo para fazer amizades e trabalhar habilidades. Notei isso na minha primeira noite. Os dormitórios eram divididos por sexo e faixa etária. Eu dormia no quarto das garotas pré-adolescentes. Todas elas especulavam o que fariam quando saíssem, estavam super ansiosas para iniciar o terceiro colegial, a última fase do colégio. Além disso, elas aproveitavam para fofocar sobre os garotos.


“Ei, garota nova!” disse uma menina sardenta.
“É mesmo, vamos conhecê-la” entusiasmou-se sua irmã gêmea.

Elas eram a Maria e a Madalena, as primeiras pessoas que eu conheci ao entrar no colégio. Gêmeas idênticas e órfãs, estavam lá desde os dez anos. Os pais faleceram num acidente.
Maria era temperamental, briguenta mesmo. Encrencava com tudo e vivia carrancuda. Não tinha a mínima paciência com a irmã. E adorava ouvir música.
Madalena era dócil e um pouco infantil, tudo era motivo para rir e brincar. E também era uma grande paqueradora.
Elas conheciam tudo e todos do colégio. Elas me apresentaram minha nova vida, e a presença delas me fizeram sentir que as coisas seriam menos difíceis por ali.


Não conversamos por muito tempo, pois logo a inspetora apagou todas as luzes para que fossemos dormir, e aquela conversinha de cá e de lá parou de imediato.
Não consegui dormir na primeira noite. Nem na segunda. Temia que nunca mais fosse ter uma boa noite de sono.
Maria e Madalena me passaram mais ou menos como funcionava os horários.
7h: Café da manhã
9h: Início das aulas
12h30: Almoço
13h: Retorno às aulas
18h: Fim das aulas
19h: Jantar
22h: Dormir
Aos sábados e domingos não tínhamos aulas, mas éramos obrigados a participar de algum grupo de artes ou esportes, e tínhamos que escolher uma religião também.
Ou seja: Não sobrava praticamente tempo algum.

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