Tasha, a Bruxa
História inspirada na personagem do livro Sob os Olhos de Natasha
Por Meh Souza

 

Não era todo dia que sentávamos para conversar.

Natasha (ou Tasha, como gostava de ser chamada) não fazia o tipo que gosta de papear. Então, nesses raros momentos, eu aproveitava para chamar sua atenção para seu comportamento e isolamento constante.

Claro que ela não gostava nem um pouco dessa repreensão. Eu me sentia como se estivesse falando sozinha, pois ela mal me respondia. Quando o fazia, era apenas monossílabos.

Sra Josefa: Não é querendo pressioná-la, querida, mas você devia procurar uma faculdade para fazer ao invés de viver cultivando sua tristeza sem motivos.

Ela apenas me olhou com o canto do olho, então continuei: Sra Josefa: Você é uma garota tão talentosa! Não compreendo por que não investe em si.

Tasha: Ah, é mesmo? Então me diga: No que eu sou talentosa? E para que ter uma profissão se vou receber uma herança recheada de títulos quando você morrer?

Sra Josefa: Não fale assim com sua velha avó, Natasha! Já se esqueceu de que fui eu que te criei? Não foi essa a educação que te dei! Mereço um pouco de respeito.

Tasha: Ah, sim, desculpe-me, esqueci que fui ignorada pelos meus pais como se fosse um traste inútil!

Afinal, por onde que anda minha amada mãe? Será que já conseguiu aplicar o golpe do baú em outra pessoa ou está vivendo na miséria?

 E o meu paizinho, ao morrer de câncer foi perdoado por Deus ou está agora ardendo no inferno?

Sra Josefa: Ah, Tasha, você me cansa com essas lamúrias. Seus pais não tiveram muito juízo mesmo, meu filho era um cabeça oca. Mas isso não lhe dá esse direito...

Tasha: Você é que me cansa, vó. Se eu sou tão fútil assim, por que me adotou?

Sra Josefa: E você acha que permitiria que pagassem uma pensão gorda para a sua mãe?

Tasha: Este é o único motivo, não é?

Sra Josefa: Claro que não. Eu te amo, Tasha. Ou pelo menos aprendi a amar. Mas de uns tempos para cá, você está sendo uma decepção.



Tasha: Oi pai. Não posso dizer que sinto sua falta, eu mal te via quando você era vivo. Mas eu sinto falta de amor paterno. Acho que sinto. Afinal, ninguém substitui isso. Ninguém. Eu me sinto a pessoa mais idiota do mundo.

Sra Josefa: Sabia que te encontraria aqui. Não precisa dizer nada, querida, ele pode te ouvir. Não precisa chorar, eu sei como é doloroso.

Tasha: Não estou chorando por que estou triste. Estou chorando de ódio.

 

Aquele comportamento agressivo e arredio me preocupava. Ás vezes eu acordava durante a noite com barulhos que vinham do seu quarto, mas não ousava me levantar.

Tasha passava horas frente ao espelho contemplando a si mesma. Ela também tinha o costume de falar sozinha e brincar com a comida ao invés de comê-la.

No banho, demorava horas. Se deixasse, passava a noite toda na banheira, submersa na água, submersa em seus pensamentos.

Observando sua magreza, como andava fraca e mole, decidi conversar com ela. Escolhi uma manhã ao acaso, e sentei-me numa poltrona diante de sua cama esperando que acordasse.

Tasha: Bom dia, vó. O que a senhora quer?

Sra Josefa: Querida, você anda tão magra! Devia levantar mais cedo, alimentar-se melhor... não sei, só sei que essa sua rotina não é sadia!

Tasha: Ah, vó. Não sei do que a senhora está falando. Eu só me sinto um pouco sonolenta porque não consigo dormir a noite...



Tasha tinha um amor pela natureza e pelos bichos que era de encantar.

Devido a isso, tornou-se uma pessoa pagã, que não acreditava no cristianismo e via cada elemento natural como um deus.

Ela passou a realizar cultos para a natureza. E escolhia os lugares mais isolados no meio do nada para prestar suas homenagens, festejando sozinha.

Ela dizia ter respostas do vento, do céu, das árvores, dos bichos. Mas confessava que se sentia um pouco assustada às vezes.

Para mim, aquilo se resumia a uma palavra: Bruxaria. E eu não admitiria isso debaixo do meu teto.


Tasha: Ora vó, eu não tenho que seguir as mesmas tradições que você, eu tenho minhas próprias crenças!

Sra Josefa: O que você anda fazendo é coisa de bruxa, isso sim! Essa coisa de adorar deuses, fazer rituais e ler encantamentos...

Não estou afim de abrigar espíritos em minha casa... 

Espíritos que sugam toda sua energia!

Então pare com isso! Por favor, Tasha!

Tasha: A senhora não compreende. Eles não me prejudicam, eles me ajudam.

São eles que nos protegem e nos iluminam! Se você os deixasse te guiar, saberia!

Mas a senhora é mesquinha demais, soberba demais, esnobe demais... A senhora me dá nojo, vó!


E eu já tenho 18 anos, não preciso ficar ouvindo sua baboseiras! Não preciso receber ordens de você! Não preciso que me diga o que fazer e como agir!


Sra Josefa: Muito bem, então ponha-se para fora desta casa. A partir de hoje, esqueça que eu existo.


Tasha atravessou o país para morar numa casinha simples e aconchegante, afastada das outras casas, localizada ao lado de um cemitério.


Era o local ideal para ela fazer sua bruxarias, usando sua própria energia para convocar forças sobrenaturais. Adotou até um gato preto.


Cansada da vida que levava, Natasha Magnorim deixou-se ser consumida pelo fogo, entregando sua alma para o além.

O gato permaneceu por ali, assistindo a tudo, sendo possuído pelos espíritos que vagavam pelo local.

Tasha encontrou a morte, e lhe aceitou como sua companheira, encontrando nela a paz que tanto desejava.

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